O Fracasso é um grande professor

Só que ele cobra caro

Certa vez minha mãe me deu 50 centavos para usar no caça-níqueis da padoca enquanto ela comprava comida no mercadinho ao lado. Eu tinha 8 anos e muita sorte! Na segunda aposta de 25 centavos, deu jackpot e ganhei um prêmio de 1.000 moedas, o que dava R$ 250.

A máquina começou a apitar e cuspir moedas. Os bêbados da padoca me rodearam e tomaram TUDO. Saí da padoca chorando e procurando minha mãe, mas com R$ 1,75.

Acho que eu tava tipo assim

Nesse dia aí a vida me deu um pequeno sabor da lição amarga que viria décadas depois.

Em 2021 minha vida estava mais ou menos boa. Já fazia um ano que eu empreendia, e nesse aspecto as coisas iam bem! Não estava rico, porém meu track record era admirável: 100% de aproveitamento em estratégias de lançamentos. Sério, todos os projetos nos quais coloquei a mão deram lucro considerável aos donos dos negócios e uma pequena fatia indo pro meu bolso.

Veja bem, no meu primeiro projeto, ainda no ano anterior, assumi a liderança de uma agência que estava com caixa negativo em meio milhão de reais e moral da equipe lá embaixo. Pedi total autonomia aos sócios e realizamos 450 mil reais em vendas com apenas 16 mil investidos em 20 dias. Metade foi para o cliente, metade ajudou a tratar nosso caixa.

Não foram necessários mais do que 4 meses para começarmos a operar no positivo e recebermos nossa primeira placa de R$ 1 milhão pela Hotmart. Daí em diante foi acerto atrás de acerto. Porém…

No dia 6 de julho de 2021 isso mudaria por completo. Eu iria participar da falência de um negócio digital pela primeira vez e meu comportamento nunca mais seria o mesmo.

Algum tempo atrás eu havia encerrado parcerias como a da agência em questão e abraçado um projeto novo com um expert que eu conhecia há tempos! Cara inteligente pra cacete, sempre disposto a testar coisas novas e me entregando boa parte da operação. 

Eu já sabia que ele tinha uma dívida considerável e que a empresa andava na corda bamba, só que os números eram promissores e eu já havia lidado com isso antes. Passamos bons meses rodando umas campanhas não muito agressivas, testando formatos de vendas, lidando com os desafios da pandemia e cobrindo os custos com certa folga. 

Esse parceiro me revelou que tinha planos de fazer algo altamente agressivo e que se eu topasse entrar na jogada com ele, os números indicavam que uns 150 a 200 mil reais entrariam na minha conta. Não sei como é a sua vida, mas a promessa de 200k limpos me fizeram pensar na seguinte cena:

Por mais de um mês eu trabalhei como se não houvesse amanhã, editando vídeos, textos, páginas, revisando roteiros e vendo que tanto ele quanto outros parceiros da empreitada também estavam envolvidos até a alma!

Eu só não sabia que esse camarada estava com 5x mais dívidas do que havia me contado antes. E que ele entraria num movimento kamikaze de investir 100% do caixa em campanhas de anúncios e ferramentas de automação. O mundo do marketing tem movimentos peculiares. Não necessariamente dobrar o investimento dobra o lucro, embora algumas mudanças de preço causem resultado exponencial. 

Ao escalar o volume de leads em quase 10 vezes, as ferramentas de e-mail bloquearam os disparos. Um dos meios de pagamento bloqueou a conta e as automações de Whatsapp não funcionaram. Eu estava às cegas, inclusive sem noção de quanto havia sido investido. 

Mas sabia que algo estava errado. 

Conversamos por telefone e ele me revelou que havia tomado algumas decisões agressivas por conta própria, que imaginou outro cenário… Terminamos a ligação sabendo que o negócio tinha falido, porém com um plano B que recuperou parte do investimento, mas não chegava nem perto da metade.

Essa pessoa ainda me devia uns 25 mil, deixei a dívida de lado e desejei o melhor. Uma semana depois ele postou uma foto com a esposa, ambos comendo lagosta em Jurerê Internacional e eu cogitando vender o carro para cobrir o aluguel.

Veja bem, eu tinha 100% de sucesso em campanhas. A ÚNICA que deu errado, foi em proporções ÉPICAS.

Me senti uma fraude. Como eu podia ter ignorado todos os sinais de que alguns números não batiam? É tipo a pessoa descobrindo que foi corna, ou a mãe percebendo que o filho vive do crime, tava estampado o tempo todo mas a gente não repara.

A gente não repara alguns sinais do fracasso porque está habituado às coisas funcionando na média de sempre.

Lei de Murphy no empreendedorismo: quando você tem 100% de sucesso, o universo está apenas preparando o fracasso épico da sua vida.

Como sou um cara de muita sorte, no mesmo mês eu tinha um contrato paralelo com uma cliente que sempre admirei. Fizemos um teste investindo quase nada e vendemos R$ 105 mil. Cobrei quase nada pela execução do lançamento. Ter um novo case de sucesso num mês tão desgraçado me devolveu a confiança a tempo do meu aniversário!

Curioso como "perder” 200k que nem existiam ainda dói mais que ganhar qualquer dinheiro de verdade. Igual ao dia das moedas no caça-níquel.

É engraçado que em 17 anos de marketing vivi inúmeros projetos com marcas nacionais, multinacionais, individuais e até sociais. Tive a alegria de celebrar resultados absurdos com clientes e colegas, escrever e-mails e roteiros que são utilizados até hoje, mas os dois projetos que mais me marcaram são justamente meu primeiro lançamento bem sucedido com a agência e meu primeiro grande fracasso com esse expert. 

A coisa que mais mudou depois de viver o fracasso dos 200 mil reais hipotéticos foi que eu voltei a operar no marketing e na visão profissional como era um ano antes: 

Menos medo e muita disposição a investigar todas as camadas de uma campanha. Essa campanha que rodei com a outra cliente no mesmo período já foi em um nível de detalhe que há tempos eu não cobria!

Depois de dez ou doze projetos de alto retorno, eu não estava confiante, estava pedante. Achava que erros pequenos não aconteceriam, que os grandes números eram favoráveis e que o mercado era um grande oceano azul.

Nada como um belo fracasso para realinhar os chacras e trazer de volta as sandálias da humildade.

Seja lá qual for a sua linha de atuação, você vai fracassar em algum momento.

Pode ser uma falha grande, pequena, algo que te deixa questionando todas as decisões que te fizeram ficar na merda. 

Aproveite o momento da queda para respirar, entender tudo o que fez de errado e principalmente como não cometer os mesmos erros. 

Mas acima de tudo, esteja com dois ou três planos extras em mãos, ainda que sejam de pequenas vitórias!

O fracasso ensina muito sobre quem você é, desde que você esteja com disposição para entender as lições.