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Genialidade não sai do suvaco
“A primeira música que eu escrevi e senti que seria um grande hit foi Live Forever. Levei ao nosso ensaio, orientei que cada um fizesse tal coisa. E assim que escutei, soube que ela seria boa. Eu já havia comprado revistas o suficiente, consumido música o suficiente e possuía álbuns suficientes para saber o que era uma ótima música. As melhores composições meio que caem do céu enquanto você brinca com a guitarra. É por isso que eu brinco com a guitarra em toda oportunidade possível. Algumas ideias chegam prontas, outras completas, mas elas estão lá.”
Assisti recentemente a uma entrevista do Noel Gallagher, aquele membro do Oasis que era mais parecido com o Samuel Rosa, na qual ele comenta sobre a criação de alguns dos hits que moveram multidões pelos anos 90, inclusive tem um corte dela aqui.
Por coincidência, semana passada minha amiga Mari Jacintho me convidou a um de seus shows acompanhando a dupla Anavitória. A Mari é tecladista profissional, já ensinou mais de 15.000 alunos em sua escola e, nas "horas vagas” toca em festivais, turnês como a da Anavitória e cria conteúdo sobre teclado. Logo após o show, perguntei quantas apresentações ela faria na turnê atual e meu queixo foi levado ao chão quando escutei que seriam 30 shows.
Seja a Mari no teclado, o Samuel Rosa Britânico na guitarra (o Júlio na gaita, a bicharada no vocal…) ou qualquer outro músico de renome atingindo grandes públicos, todos eles trabalham para um cacete até chegarem em suas melhores criações.
Mas não basta apenas ensaiar muito.
Ainda na semana passada, presenciei a cena abaixo:

Dois dos maiores players de marketing do país com a mão na massa em uma campanha de Black Friday. Reescrevendo textos, reavaliando anúncios, testando e criticando abordagens, mesmo podendo não encostar em nada disso!
A genialidade que faz a Mari ser referência na música e o Érico ou Ladeira serem estrategistas renomados está além da prática frequente e resultado, está na forma como praticam!
O que diferencia um profissional esforçado mediano de um esforçado fora da curva é praticar com frequência, consistência e método, o que não chega a ser diferente de metodologia científica para descobertas e análises.
Até o desenvolvimento de uma vacina segue sequências lógicas, frequência constante e documentação.
A pessoa mediana testa de tudo, ensaia de tudo, atira para diversos lados sem muito ritmo ou previsibilidade, o que já não passa tanto pela cabeça de alguém que performa em alto nível de entrega. O profissional que muitas vezes chamamos de gênio é fiel aos rituais, no entanto, não é completamente limitado por eles.
Pessoas acima da média encontram um caminho que facilita a prática, e isso é fundamental para que a prática não seja um processo doloroso. Nosso cérebro gosta de criar atalhos, por isso repetir esforços de maneira ordenada, respeitando uma sequência ou método faz com que a experiência seja leve e, ao mesmo tempo, possibilite descobertas enquanto você realiza a tarefa de sempre.
Praticar sem método é como malhar sem peso. Cansa mas não cresce.
Peraí.
Eu entendi que usar método ajuda a repetir, mas como vou chegar em novas ideias apenas repetindo o processo?
Primeiramente, com olhar crítico:
Praticando a mesma atividade que é feita todos os dias, onde ela pode ser melhor?
Quais ângulos você não usou?
O que acontece quando você troca um elemento ou sequência mas não foge do seu método de prática?
Segundo, com uma meta:
Vou fazer até dar certo. Vou fazer até ficar bom. Vou fazer até ser melhor do que era um mês atrás.
Lembro bem de quando fiz meu primeiro pitch de vendas em uma live. Foi em dupla com meu amigo Leo Leite, após darmos uma aula absurda de marketing e ali foram cerca de 600 vendas realizadas. Uma pessoa da empresa havia assistido e comentado com outra colega como estávamos indo bem, e o que a colega respondeu foi: “Eles trabalharam em mais de 100 apresentações no último ano, não tinha como falharem agora”.
A gente tinha ritmo e também o nosso jeito certinho de fazer.
Um método nada mais é que um algoritmo de execução dos passos de uma tarefa! Quando vejo o Ladeira pensando em novas abordagens comerciais, ele não tirou a ideia do suvaco, ela foi construída de acordo com o que ele chama de Mandala, que é o método de criação baseado em “orbitas” de um tema ou objetivo central. O cara já repetiu a prática dentro do método tantas vezes em 5 anos que nem precisa olhar para a estrutura, ela foi mentalizada.
É assim que atingimos o estado da arte em nossas atuações. Não apenas com ritmo ou volume, e sim com fidelidade ao jeito de ensaiar.
Busque seu método e abrace-o, ele vai te salvar tempo e entregar os melhores resultados.
Outro dia comentei sobre um tema similar ao de hoje no podcast Além das Boas Ideias! O nome do episódio é O Mito do Improviso. Em menos de 20 minutos você entende melhor o que faz o improviso parecer tão natural, quando na verdade é fruto de repetição constante. Já ouviu? Aposto que vai curtir!
Até a próxima semana!