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Apaixone-se pelo velho (não o da lancha)
Ou pode ser o da lancha também, a vida é sua
Fiquei 2 horas parado em uma fila, sentindo o frio de 6 graus castigar meu corpo, mas a recompensa seria ótima: eu finalmente iria acompanhar a gravação de um programa do Stephen Colbert. Esse camarada aí não é apenas um apresentador de TV qualquer. Ele apresenta o Late Show diariamente e entrevista inúmeros nomes marcantes da cultura pop e, além disso, é um dos maiores fãs e especialistas no universo de Senhor dos Anéis.
E isso, meus amigos… Isso estava prestes a tornar a recompensa ainda maior do que eu imaginaria.
Durante essas gravações, nas quais é proibido qualquer tipo de uso do celular, é comum que os apresentadores respondam às dúvidas da plateia. Na primeira fração de movimento que sugeria a abertura da sessão de perguntas, levantei o braço. Imediatamente o Stephen reagiu com "você aí cheio de tatuagens, manda bala".

E nem tá a coleção inteira aí!
E minha pergunta foi "O que te faz ser tão apaixonado por Tolkien? E aliás, duas dessas tatuagens são de Senhor dos Anéis!"
Só de lembrar o que aconteceu a seguir, eu começo a rir.
Ele veio até o meio do auditório, apertou minha mão e pediu para ver as tatuagens. Elogiou o fato de eu ter a Sting (espada do Bilbo Bolseiro) tatuada com os dizeres "Home is behind, the World ahead". E então passou bons minutos respondendo, mas parte da resposta foi:
"Eu amo a obra de Tolkien porque ela mostra que mesmo os finais tristes podem ser bons. Assim como a vida. O final de Senhor dos Anéis não é feliz, é melancólico. O que não quer dizer que é um final ruim para uma jornada, só que boas jornadas nem sempre terminam de maneira prazerosa, e a vida é igual.
Eu amo Tolkien porque ele mostra diversas formas de otimismo em momentos sombrios e revela o valor de sentimentos simples no decorrer de grandes desafios. Eu poderia falar sobre Tolkien por horas e fico feliz que você tenha me perguntado isso!"
Por mim, poderia ter caído um meteoro enorme ali em Nova York, assim como nos filmes, e eu não me importaria em ser obliterado. Pois havia acabado de realizar um sonho que eu nem imaginava ter: um diálogo com o maior fã da mesma obra pela qual sou apaixonado.
Faz quase dois meses que isso aconteceu e desde então é difícil não pensar em como aquele dia impactou a forma como eu vejo o mundo. O mais curioso é que ele não me disse nada novo! Eu consumo Tolkien há duas décadas, eu sei que aquilo é real e que a obra traz todas essas nuances, mas não sob aquele ponto de vista ainda mais emocional sobre o final triste não ser ruim.
Fiquei doido para reler a saga inteira.
Semana passada pude participar de um hot seat, sessão onde empresários buscam ajuda em temas complexos de seus negócios. Durante certo momento em que alguém relatava uma dificuldade em realizar certas ações de crescimento, veio a resposta:
"Você precisa comprar novamente a razão pela qual faz isso. Olhar para a coisa de sempre com novos olhos".
Cacete. Esse cara disse para o outro o que foi minha exata sensação ao escutar as palavras de Stephen Colbert. Ganhar novas perspectivas sobre os desafios de sempre.
Ainda por mera coincidência, conversava sobre livros com um amigo que é católico daqueles bem engajados (e legais), perguntei se ele já havia conectado o que tem de comum entre As Crônicas de Nárnia e a Bíblia.
Ele reagiu surpreso e saiu dali dizendo que ia consumir a obra outra vez depois de uma década.
O filósofo Heráclito dizia que um homem não entra duas vezes no mesmo rio, porque sabe que o Rio tem risco de arrast… Deixa pra lá. Porque na segunda vez, o rio e o homem já mudaram.
Com tantos estímulos simultâneos entre reels, shorts, tiktoks, vídeos, aplicativos, descontos, eventos… Onde fica o valor daquilo que nos moldou como adultos?
Você já leu no último ano alguma obra lida durante sua juventude?
Viu algum filme que era seu preferido aos 16 anos?
Conversou com alguém de outra fase da vida?
Confesso que tenho falhado nisso, mas já entrei no caminho da correção.
Criar e inovar nem sempre é sobre olhar para as coisas novas, mas também sobre reinterpretar aquilo que é antigo.
É fácil mentir usando a verdade. Falei sobre isso e também da importância de defender e expor seu ponto de vista no episódio mais recente do Além das Boas Ideias!
Dura menos de 18 minutos:
Até semana que vem!