🥳 36 anos de fome (ou quase)

Vem comigo soprar velinhas!! 🎂

Pensei em começar a edição de hoje dizendo que acordei mais velho… Aí lembrei que a gente acorda mais velho todo santo dia e perdi o fio da meada. Mas, sim, hoje é meu aniversário de 36 anos (alguns vão dizer que peguei muita estrada de terra) e é meio difícil chegar nessas datas sem refletir bastante sobre a vida.

Tenho inúmeros motivos para reclamar de como a vida tentou me destruir várias e várias vezes entre o último aniversário e o atual, mas sabe de uma coisa? Foi um dos meus melhores anos. 

Acho que Oscar Wilde foi o autor de uma frase sobre algo assim, de que seus anos de maior sofrimento acabariam sendo os melhores da vida. Se não foi ele, foram as vozes da minha cabeça, ou a Clarice Lispector. Na dúvida, toda frase inspiracional vem da Clarice.

Pensei que seria interessante colocar aqui 36 aprendizados dos 36 anos de vida, aí me liguei que ninguém vai ler tanta coisa logo cedo, também me liguei que nem sei se tenho tantos aprendizados assim.

Certo, o que mais eu posso falar além de fatos incríveis como meu aniversário cair sempre na mesma época do ano…

Que tal esse contraste entre as maiores dificuldades e um dos melhores anos da vida, e como isso muda seu jeito de ver o mundo, as pessoas e o trabalho? Pra isso, vamos precisar de uma breve viagem no tempo.

Nos teletransportamos para 3 de janeiro de 2000. Depois de rodar entre Mato Grosso e São Paulo, minha família aluga uma casinha de dois cômodos perto do Jardim Ângela. Meu irmão ficou no MT, então a formação era: pais, irmã, sobrinha de onze meses e eu, com dez anos. Em 2002 meu irmão se junta de novo à trupe e viramos seis, espremidos naquela mansão de dois cômodos.

Três anos antes, morávamos numa casa enorme, com quintal, árvores, gatos. Agora, viramos sardinha em lata.

Existem vários níveis de pobreza e, no nosso nível, era uma pobreza de camarote, a gente passava bons apertos, mas nunca faltou o essencial.

E como a média do bairro era similar, não foi um período necessariamente triste, afinal, todas as pessoas próximas estão com perrengues similares e nem dá pra se comparar com alguém que está indo bem.

Por alguns anos, estudei no Vaz de Lima, bairro eventualmente citado em letras dos Racionais. Odiava. Trabalhei no Capão Redondo, também odiava, mas ali comecei a ver gente que conseguia escapar do poço tal qual o Bruce Wayne em Dark Knight Rises.

Acho que eu também odiava minhas escolhas capilares quando trabalhava no Capão Redondo.

Por muita sorte, trabalho e oportunidades, as coisas evoluíram muito e 25 anos depois minha vida é melhor do que jamais foi. Conheço mais de 20 países, tenho todos os bens de consumo que desejava ter e… notei que não tinha mais fome.

Veja bem, nós nunca passamos fome literal (até porque fui gordo a vida toda), mas eu sempre tive outra fome

Estudei estatística, redação, planejamento estratégico, vendas e fotografia, trabalhei em todo tipo de lugar porque a fome era de ter tudo aquilo que nunca foi possível na juventude. 

Enquanto você tem fome, não sobra tempo pra tristeza, só de correr atrás pra preencher esse vazio. No começo, agir é fácil: a fome é de oportunidades, crescimento, dinheiro. O fundo do poço você já conhece e sabe como escapar dele!

Porém, depois de algum tempo sua vida muda do “eu não tenho nada a perder” para “eu tenho tudo a perder”. Você agora pode perder o status, os tênis caros, a ida anual à Europa, o restaurante diferentão. É surreal o impacto que uma mudança tão simples na frase citada acima causa nas ações cotidianas. 

Pelo medo de perder tudo o que construímos e alcançamos, travamos.

Deixamos de criar, arriscar, de dar grandes saltos. Nos tornamos acomodados com a recompensa previsível de fazer o mesmo esforço de sempre, afinal, a vida é melhor do que jamais foi.

E é aí que mora o perigo. 

Dentre frustrações, lutos, fracassos e gastos que tive entre meu último aniversário e hoje, percebi que na verdade, nem eu, nem você temos quase nada a perder, mesmo depois de conquistarmos muito. 

Se a pior coisa que pode acontecer por você se dar a chance correr um risco diferente é algo que já rolou antes na sua vida, já está no seu GPS o caminho para escapar disso depois.

Vai lá, faz o bendito curso que você quer fazer. Comece o hobby que vai causar machucados, invista no que vai fazer a carreira dar um salto, faça uma promessa agressiva que não sabe se consegue cumprir.

Mantenha sua fome viva!

Bora meter o loco, que a vida passa voando.

Se você chegou até aqui, tenho um convite especial para ajudar quem sente a fome que eu nunca senti, o frio que nunca passei. Tem gente que já perdeu tudo e precisa do mínimo: comida, abrigo, proteção do frio brutal que vem castigando São Paulo.

A SP Invisível faz um trabalho espetacular com a população de rua da cidade, e você pode fazer parte disso: basta apertar aqui para fazer uma doação, ou ir pelo pix abaixo:

Nenhum de nós tem nada a perder, mas muito a doar.

Forte abraço!